quarta-feira, 29 de maio de 2013

A forẽt des Soignes não é o Marão


por Luiz da Nóbrega  em Sexta, 17 de maio de 2013 
 Vou, numa espécie de musica, perder-me densamente na manhã imensa,
vou avançando, pasmado, até esse espanto de me ver parte
da floresta densa.

 Por vezes vou lá, já noite cerrada, pela calada da noite
na noite calada...mas ela não se cala.
Uma pinha que cai, um esquilo que salta,
qualquer ruido embala, qualquer  luzinha faz falta.
 E o barulho, que depois reconheço, das folhas que caiem
bruissando na brisa, a tropelia dos cervos, 
e das nocturnas aves os alaridos, nos quais dormito encostado,
se sinto frio caminho um bocado...
Não é o Marão. Não...
é uma floresta que conheço
mas não sei se me conhece...
é um espaço onde esqueço quase tudo o que no mundo acontece,
e aqui também amanhece....

Gosto das frescura destes ventos,
do cheiro forte do húmus,
que apazigua iras e tormentos,
entro neste entrelaçado de sombras
onde o sol só se atreve
em claridade leve e insegura
para não perturbar esta paz escura.

Por vezes penso que não sei o que faço,
encontro uma árvore e dou-lhe um abraço
mas logo me esqueço, nem preciso de olhar
a calma secular dos álamos, dos freixos, a chegar...

Agora há narcisos..com esses roxos tão precisos, de tanto se mirarem..
espalham-se pelas colinas em mantas coloridas
longe, e mais longe ainda e
as cores são tantas que não se podem pintar,
invadem clareiras doces onde apetece correr,
então corro, corro até rebentar,
corro até sem ter meta,
e agora? 
Onde é que deixei a bicicleta?

Javalis altivos trotam sem medo. Ah! Se eu fosse caçador...
e ninguém visse, apanhava-os sem dor
e levava um bocado para por
dentro de um pote em Tourinhas,
deixa-os lá...estão verdes.
Passa uma águia..não. Aqui não é o Marão. São garças
elegantes, voam esparsas pela quietude do lago,
e , comme d'habitude, mais vale estar calado.
Qualquer palavra seria um barulho gago.
Até as outras aves param para as verem passar,
Os patos, cisnes, gaivotas...mas os fáceis de pescar,
só de passagem...querem é os canais da cidade,
metem-se em suas betônicas grutas,
à procura dos restos desta miragem,
são umas putas! Deixa-te disso....

Deixa é bater o coração, ao sabor das cores, das sombras, dos sabores
mesmo que não bata no Marão.
Aqui há castanhas, avelãs, cogumelos, coisas sãs,
um tempo tranquilo sem sorrisos amarelos,
aqui os sorrisos não tem cor...são sorrisos, mais nada.
Nem sei se têm amor, 
têm uma gentileza inesperada,
e uma dureza fria, quase petrificada,
uma beleza empedernida num sóbrio equilíibrio que quer
conservar a vida. Mas não é o Marão. Não.
No Marão, há chuva fria, bruma intensa, silencio cego
mas há o apego da presença de um amigo,
um abrigo. Aqui só corro depressa...

E corro até sem razão e sem ter meta...
Por vezes sinto uma gota no rosto,
não sei se é orvalho ou qualquer outro mosto,
procuro-a com a mão e limpo-a de forma discreta,
Não é o Marão, não...
onde é que deixei a bicicleta?

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