quarta-feira, 29 de maio de 2013

aparições

por Luiz da Nóbrega  em Sábado, 4 de maio de 2013 
  Eis a rua. Apareço.
  Aparecem-me formas, rostos,
e mesmo esboços de movimentos. Mas é tudo baço...
 Desembaça!
 ( Há quem diga desembacia, mas isso, para mim, significa sair do bacio.) Não importa.
 Eis a rua, com seus passeios e as portas que os miram desapegadas
mas vigiando as entradas.
 Para as saídas é mais simples, fecham-se mais depressa.
 E voilà. Só existe um ritmo singular em cada esquina depois de a virar. Em cada praça pairam línguas diferentes.
Pairam coisas. Batem instintos e sentimentos no ar que respiro.
 Paira uma avidez egoísta que faz tornar a fome abjecta. Por  cima disto tudo, e até dos riscos amarelos, e até ofuscando as luzes programadas, ouve-se um ricanar amargo.
 Olha-se para cima e vê-se um esgar no sol indefinido que parece querer dizer presença.
 E como é para todos, toda a gente apairece. Desolação.
 Que é isto de querer marcar presença na desolação?
 Depois, por todos os lados pairam gritos irados. Violências viradas para dentro das casas. Testemunhas caidas nos passeios por entre os transeuntes intestemunháveis. Vão avançando em pose ambígua, mostrando fachadas tao pesadas como as da tranquilidade das casas.
 E os transeuntes , em transe, untam-se de simulacro de tranquilidade. ( é um antigo produto fornecido por igrejas, governos, partidos e outras partidas e repartidas famílias.)
  E avançam. Como se aqueles gritos todos pudessem ser deixados ali, entre os klinexes e as camisas de vénus. Conspurcados pelas latas da Caraplis nocturna das más horas do vômito. E tudo isso pairando no frio petrifricante de uma nuvem feita de gelo escuro, que não tem nada a ver com a atmosfera.
 Pairam também olhares virados ao contrário. Porque será que há tanta gente a olhar para dentro? E para dentro de quê?


 ( continua...)

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