terça-feira, 28 de maio de 2013

balconarias(fg)


por Luiz da Nóbrega em Terça, 23 de abril de 2013 
O homem não percebeu,
nem quem ele é,
nem quem sou eu;
Ainda anda de pé
depois pára à deriva:
disse-me: -"Trago uma luz nos olhos,
uma coisa viva."

Disse-me:
" Cheguei aqui num calmo desvario,
em minha casa recomeçou o rodopio,
o desfile amargurado das quase amigas
da mulher a quem vem contar queixas,
porque  em casa delas houve brigas
ou não podem colorir as madeixas,
eu antes vivia em solidão
e assim continuo no meio desta multidão,
se é assim, que assim seja,
vou apanhar mais um cansaço de cerveja,
depois já não sei quem rio ou quem chorou,
se ela chorou ou se eu rio,
se alguém passou na escada,
se desceu ou se subiu."

O homem até percebeu,
chegou, apanhou e deu,
andamos todos à porrada,
só não se sabe quem ganhou nem quem perdeu,
quem beijou, se foi beijado,
se deduziu que foi seduzido para passar a vida
assim a passar só um bocado,
se ouviu, se foi ouvido,
procurou, foi procurado,
entrou naquilo mas ficou nisto,
se ele viu sem ter sido visto,
se as coisas se passaram
ou ele passou pelo mundo,
onde os seus gestos pararam,
ou se foi ele mais fundo do que
as vozes que o chamaram.

Estava ali a gritar
no ponto de saturação,
se ele bebeu cerveja
ou só, se encostou ao balcão
com a dor que lhe sobeja,
e nem lhe desponta a razão,


se foi ele que disse sim
ou os outros que disseram não,



trazia nos olhos uma luz acesa
por um demasiado cheio coração.

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